Profetizado por Nietzsche, a morte de Deus terá mesmo ocorrida? Mas afinal, de que Deus ele falava? Oras, existem tantos deuses como conceitos. Os conceitos mudaram com o tempo, foram adaptados, atualizados, dogmatizados e estruturados. Ao final, os conceitos do divino chegam a tamanha fragmentação que podemos dizer que os conceitos originais morreram e como corolário, a divindade em seu aspecto primordial, se ausentou da humanidade.
O racionalismo moderno parecia ter expulsado Deus de nosso meio. Mas ele está de volta em forma de angustia, depressão, solidão e impaciência. A prometida felicidade da sociedade técnico-industrial está longe da alcançada nas longínquas aldeias do Amazonas ou nos vilarejos perdidos da Ásia e da África. A ausência de Deus não pôde ser suprida plenamente pelos celulares, computadores ou automóveis.
Se Deus está ressuscitando, ainda assim o tumulto atual nos impede de vê-lo plenamente. Basta lembrarmos de que, conceitualmente, o amor é a expressão de Deus e, no entanto, vivemos numa sociedade onde a vida é complexa e tal sentimento raro. Por isso, não é de se admirar que já não se sinta o divino com facilidade. Mas para suprir essa ausência, a sociedade criou dogmas (complexos como a vida moderna) que simula a divindade e criou também um novo Deus, à nossa imagem e semelhança, capaz de nos amar como nos amamos e odiar nossos inimigos, como nós os odiamos, mas que serve, principalmente, para dar embasamento espiritual para nossas buscas terrenas.
Certa ocasião, perguntaram a um rabino: “Deus não fala mais aos homens, tal como falava aos profetas?” O rabino respondeu: “Deus ainda fala, mas ninguém mais consegue se inclinar para ouvir”. Isso nos leva a refletir: ou Deus morreu ou nós ficamos cegos e surdos. Será devido a nossa cegueira que não conseguimos entender o que quis dizer Hermes, o sábio egípcio, que profetizou a mais de 5000 atrás: “Oh Egito! Egito! Não conservarão de ti senão fábulas, incríveis para as futuras gerações E dirão que nós, os antigos, adorávamos ídolos de pedras!” ?
Talvez Deus esteja onde sempre esteve: dentro do Homem. Local desagradável de procurar e trilhado apenas por pessoas cuja coragem e vontade suplantaram o racionalismo frio e mecanicista. Talvez, no meio termo entre razão e religião, na hora crepuscular, entre a noite e o dia, que os romanos chamavam de silencium, Deus sussurre verdades a quem quer ouvir. Leia também: Nós: Robôs Biológicos?
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